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ESPÍRITO SANTO INCOMODA?

       OS INCOMODADOS PELO ESPÍRITO

Uma nova expressão está surgindo no meio do povo de Deus. Refiro-me ao fato de alguns irmãos dizerem que, por algum motivo, estão sendo “incomodados pelo Espírito”. Acredito que você que está lendo este artigo já ouviu algum cristão dizer com profundo temor:“Olha irmão, eu vou falar isso porque o Espírito Santo está me incomodando”.Ou “O Espírito Santo me incomodou durante o culto e eu tenho que falar”. Ou quem sabe ”Tenho que entregar o que Deus me mandou; se eu não falar, vou me sentir incomodado pelo Espírito e certamente nem dormirei em paz...”.
Sabemos que cada grupo social ou entidade cria um jargão próprio, ou seja, um conjunto de palavras e expressões cujos significados são plenamente conhecidos apenas pelos seus integrantes. No meio evangélico não é diferente. Palavras como “tu és um vaso”, “tá amarrado”, “fica ligado”, “dá lugar” são alguns exemplos. A expressão “vaso escolhido” foi usada pelo próprio Senhor em At 9.15, ao referir-se a Saulo de Tarso. Certamente, Ananias entendeu a mensagem, pois era uma expressão usual naquele tempo e tinha um propósito bem definido. Mas não é o que acontece com todas as expressões que surgem no meio evangélico. Em alguns casos, o significado pode ser mal compreendido, principalmente quando falamos em público. Corre-se também o risco de ferir princípios e doutrinas bíblicas. Analisemos, pois, se é correto afirmarmos que estamos sendo incomodados pelo Espírito Santo:

1. O SIGNIFICADO DA PALAVRA INCOMODAR
Incomodar significa molestar, aborrecer, atrapalhar, causar incômodo. Por sua vez, incômodo é aquilo que não traz comodidade, e sim importunação. Normalmente, usa-se esse termo para coisas ruins e prejudiciais, que tiram nossa liberdade ou a nossa comodidade. Uma doença persistente, um calo no pé, um cisco no olho, uma unha encravada, um cabelo inflamado, um ônibus superlotado, um ambiente mal arejado são alguns exemplos de coisas que nos incomodam, das quais queremos nos livrar ou simplesmente tentamos, naturalmente, evitá-las.

2. QUEM É O ESPÍRITO SANTO? COMO AGE EM NÓS?
O Espírito Santo é Deus (At 5.3,4); com o Pai Jeová e o Filho Jesus Cristo formam a Santíssima Trindade Divina (Mt 28.19), digna de toda a adoração e de todo o louvor. Foi derramado sobre a Igreja no Dia de Pentecostes, capacitando os primeiros irmãos em Jerusalém e permanece entre nós, enchendo-nos do poder de Deus para pregarmos o evangelho (Lc 24.49; At 1.8). Mas não é apenas uma força impulsionadora ou um vento veemente sem qualquer personalidade. É o nosso parácleto, ou seja, nosso defensor, nosso advogado. Na Grécia, o parácleto era uma pessoa que acompanhava um amigo nos momentos de decisões e até nos julgamentos, não pela recompensa ou remuneração, mas pelo amor e consideração. Falava pelo amigo e o representava, portanto, uma companhia indispensável, que trazia consigo a confiança e alegria e jamais o incômodo ou a importunação.
Segundo a Bíblia, somos o templo do Espírito Santo! Ele habita em nós (I Co 6.19). Sendo assim, devemos permitir que esta pessoa divina sinta-se bem em nosso interior, como um habitante, desfrutando de toda a liberdade em nossas vidas, não se sentindo incomodado pelas nossas atitudes. Ele nos ajuda e intercede por nós (Rm 8.26). Ele convence o homem (sem o artifício do constrangimento) do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8-11).

3. COMO ENTENDER O USO DESTA EXPRESSÃO?
Ora, mesmo estando o homem no pecado, na desobediência e em desacordo com a Palavra de Deus, o Espírito respeita as escolhas do homem. Segundo o salmista Davi, ele é retirado, afasta-se (Sl 51.11). Assim, mesmo para o infiel, o que o Espírito Santo faz não é uma importunação (Hb 3.7). Infelizmente, alguns acham que para os salvos em Cristo o Espírito assume uma posição de severo vigilante e controlador das ações do crente. Mas, um dos símbolos do Espírito Santo é a pomba, uma ave simples e mansa (Mt 3.16). Isto aponta para a singeleza de sua atuação na vida do cristão.
A questão principal talvez seja esta: ser usado por Deus não é fácil! E alguns recorrem a este “artifício” para expressar a grande responsabilidade de estar transmitindo uma mensagem profética ou uma revelação. Também pode estar expressando um certo medo de que coisas desagradáveis aconteçam consigo, caso não transmita o que Deus manda. Neste caso, este receio é que incomoda, e não o Espírito Santo.
Portanto, ouso dizer que o uso desta expressão não tem nenhum apoio nas Sagradas Escrituras.

4. O QUE DIZER ENTÃO ? COMO CORRIGIR ESTA FALHA?
Infelizmente, com muita facilidade repetimos o que os outros falam sem qualquer reflexão. Aprendemos a dar “Aleluia”, e às vezes, nem sabemos que esta palavra significa Louvai a Jeová. Aprendemos a dar “Glória a Deus” em qualquer momento do culto, sem nos importarmos em saber se, com o que está sendo falado, cantado ou pregado, Deus pode ser glorificado. O ideal é que só pronunciássemos essas palavras espontaneamente e com consciência. Por falta desta consciência é que vamos falando o que os outros dizem sem fazermos qualquer juízo.
Porque não utilizamos expressões bíblicas e em conformidade com a atuação do Espírito Santo? Por que não dizemos: estou sendo tocado pelo Espírito, estou sendo impulsionado pelo Espírito ou eu estou cheio do Espírito? Talvez seja a falta de ousadia, como a de Miquéias que dizia: “mas decerto eu estou cheio da força do Espírito do Senhor... para anunciar a Jacó a sua transgressão e a Israel o seu pecado” – Mq 3.8.

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